quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Serie: Ilustradores Made In Brazil - Gui Borgomoni

Sempre fui apaixonado pelas imagens que povoaram minha vida underground. Foram cartazes de show, flyers, estampas dos shapes e adesivos de skate e surf, capas de discos (Lps e Cds), grafites, fanzines, quadrinhos alternativos (como a revista Animal) e qualquer outro lugar de tivesse um desenho que me fizesse parar por um momento.

Revista Animal
Conforme fui amadurecendo e também por que as informações foram ficam mais acessíveis comecei a saber quem eram alguns deles... COOP (as mulheres opulentas e perversas), Marco Almera (com seu estilo retro e parceira de algumas das minhas bandas alternativas prediletas e antes do retro virar hype!), Jim Phillips (Santa Cruz Skateboardings) e Vernon Courtland Johnson (quem não pirou nos shapes da Powell Peralta???) ditavam a moda street!! 

Ed Roth fez a geração dos 60/70 alucinar com o Rat Fink..alias ainda faz até hoje.

Poster by COOP






Nos quadrinhos... Liberatore (Ranxerox), Max (Peter Punk), Rochette & Veyron ( Edmundo, O Porco) e outros tantos mestres que nos alimentavam com suas ideias brilhantemente insanas!

Bem poderia ficar um bom tempo citando minhas referencias, mas hoje a ideia é falar de ilustradores BRASILEIROS. 

Esses gringos mesmo trabalhando pelo circuito underground, tem uma visibilidade muito grande e um grande numero de fãs.




Os caras tem sites, fazem camisetas, livros, disponibilizam seus originais, sketchs, serigrafias pra venda, ou seja, existe uma cultura de consumo de imagens e consequentemente a chance deles viverem dos desenhos sem ter de ter outros trampos onde não façam o que realmente gostam. E eles mais do que merecem isso, pois são brilhantes. 

Rat Fink by Ed Roth

Vernon Courtland Johnson


















Mas e aqui no Brasil ???? É possível viver de arte para o mercado e publico underground?
Comecei pesquisando um pouco o publico e a maioria nem sabe quem são os autores dos trabalhos que eles sabendo ou não, admiram dia a dia...
Assim...escalei seis amigos/ilustradores pra contarem o lado deles. Vamos dividir matérias individuais pra vocês curtirem bem essa pessoas incríveis e seus trabalhos, mais incríveis ainda...

São eles: Daniel ET, G-Lerm, Daniel Cacciatore, Ricardo Machado, Ratones Skate e Gui Borgomoni.

Os primeiros traços a serem dissecados são do Guilherme, que dá as cartas e "desenha" um panorama do atual momento pra ilustradores underground no Brasil

Loco A Go Go: Por favor, apresentem-se pros leitores do  Loco A Go Go. Nome, apelido e o que fazem além de desenhar. 
Gui: Eu sou o Gui Borgomoni, sou formado em marketing e hoje trabalho fixo numa produtora de desenhos animados a 44Toons. Também trabalho como freelancer de design gráfico e ilustração.

Loco A Go Go: O que levou um você a desenhar?
Gui: Acho que por influência dos meus avós, tanto do lado do meu pai como da minha , mãe. Um pintava quadros a óleo e eu adorava acompanhar todo o processo ... meu outro avô, apesar de ser coronel, mantinha um sketch book, onde praticava caricaturas e caligrafia.

Loco A Go Go: Como seus desenhos/ilustrações passaram de passatempo para trabalho?
Gui: Meu primeiro trabalho foi como estagiário em uma agência de marketing direto. Eu sempre carrego comigo um caderno para rascunhos e um dia, um dos diretores de arte gostou do meu trabalho e me pediu para fazer umas ilustrações para um cliente. Obviamente, fiz os desenhos mas não ganhei um puto por isso. A coisa ficou séria mesmo quando resolvi trabalhar como freela e peguei meu primeiro trampo de ilustrador. Fiz umas ilustrações para embalagens de uma confecção infantil e rolou muito bem.

Poster by GUI



Loco A Go Go: Como foi a decisão de sair do padrão normal de todo desenhista iniciante? Tipo deixar de lado copiar os HQs e sair pras coisas mais bizarras, monstros, caveiras, ou seja lá o que voce desenhe?
Gui: Eu nunca fui fã de quadrinhos de heróis, sempre achei muito chato. Passei a minha infância lendo MAD, Lodo, Chiclete com Banana, Dum Dum, sempre pirei com Crumb, tudo o que aparecia em banca de jornal e sebo eu pegava. Ficava horas tentando imitar o estilo dele, isso sempre me deu muito prazer.

Loco A Go Go: Quais os ilustradores que te influenciam (gringos e brasileiros)?
Gui: Angeli, Laerte, Robert Crumb, Gilbert Shelton, Marcatti, hoje eu piro com os desenhos do Flip, Hebert Baglione, Spetto, Farkas, Gemeos …

Loco A Go Go: Quais técnicas você mais gosta?
Gui: Eu gosto de papel e caneta. Uso nanquim, marcadores de todos os tamanhos, canetas de várias pontas. Profissionalmente eu faço tudo digital, mas o meu barato é caneta e caderno.

Loco A Go Go: Sua arte te sustenta financeiramente?
Gui: Ainda não. Minha sorte é ter um trabalho fixo, que apesar de pouco é uma garantia que eu tenho mensal. Mas continuo acreditando que um dia vou conseguir viver só com os meus freelas.

Loco A Go Go: Quais obras suas estão por ai no subterrâneo e a galera nem faz ideia? 
Gui: Eu fiz muitos cartazes de shows para a Highlight Sounds, Millencolion, GBH, Pennywise, No Fun At All.
Fiz o logo da Definite Choice, camiseta para a Highlight, para a Spider Merch, Bullet Bane ..

By GUI

Loco A Go Go: Cite qual você, mais gostou de fazer e qual foi o melhor resultado?
Gui: Gostei de fazer a camiseta My God Rides A Skateboard com a Highlight. E todo material promocional do Fire Driven. Acho que esses dois foram os mais legais de fazer.

Desenhos by GUI

Loco A Go Go: Você. Muito trampa na brodagem? Ou seja... Faz desenhos de graça pros amigos. Como encara isso?
Gui: Eu faço muita coisa para amigos, mas sempre penso que o trampo pode virar divulgação e pode atrair outros trabalhos. Esse é meu ganha pão, preciso ter um retorno pelas coisas que faço e nem sempre esse retorno é dinheiro. Mas tem cara que monta, aí fica foda. Já teve gente que eu mal conheço que me pediu para diagramar o currículo, porque queria que o currículo tivesse uma “pegada” Bunda de Macaco Filmes.

Loco A Go Go: Acha que o mercado tem espaço pra ilustradores?
Gui: Sempre tem. As áreas são as mais variadas possíveis. Você pode trabalhar com moda, música, editoriais, sites, infográficos ... o grande lance é a personalidade, ter um trabalho único, com as suas próprias características.

Loco A Go Go: Como Você, se compara aos ilustradores gringos (Como base de pode usar alguns dos que citei no começo da matéria)? 
Gui: Eu não faço esse tipo de comparação. Tenho o meu trabalho e estou aí, cavando o meu espaço.

Loco A Go Go: Você acredita que com as linhas de negócios como as utilizadas como lá fora (Livros, Camisetas, Vendas de Obras e Copias, Bonecos ... podem dar certo no Brasil ?
Gui: Sim. Estamos engatinhando ainda, mas hoje vemos muitas galerias alternativas, tem uma galera que procura artistas para estampas diferenciadas .. muita gente fazendo fanzines de arte .. acho que esse é um mercado ainda pouco explorado aqui e a tendência é crescer.

Loco A Go Go: Como fico fuçando muito, vi que existe um caminho que muito gente esta usando no mercado externo. O de pôsteres fictícios. Explico desenham pôsteres de shows de bandas badaladas mas que nunca fizeram esses shows, um artificio pra venderem seu material... você faria isso?
Gui: Eu gosto, mas vejo como material de merchandising. Não vejo diferença entre um pôster assim e uma camiseta não licenciada. Eu posso fazer para estudo, por hobbie, mas se for para ganhar dinheiro com isso, a coisa deve ser mais profissional. Eu vejo a Highlight e a SpiderMerch na batalha para fazer o negócio certo, entrando em contato com as bandas, licenciando o merchandising .. isso é profissionalismo.


By GUI do seu projeto Bunda de Macaco Filmes

Loco A Go Go: O fim do uso de pôsteres nas ruas (em SP temos o cidade limpa), divulgação de eventos hoje ser fortemente feita por mídias digitais, minando a distribuição de flyers e por fim material de divulgação pobre (ex.: um pôster digital feito com os dados do evento em cima de uma foto qualquer) desanima a continuar com seu trabalho?
Gui: Eu sou da época do Xerox, de sair colando cartazes em postes, em bares, lojas ... eu ainda vejo coisas assim. Tem muita divulgação que você vê coladas em lixo, postes ... O Computador é uma ferramenta. Facilita muito a vida em tempo e economia. Sou a favor em divulgação em redes sociais, você atinge seu público a custo zero. Sobre a divulgação pobre, depende de quem faz. Hoje, todo mundo manja de photoshop, mas nem todo mundo tem noção de design, por isso vemos tanta porcaria por aí. Eu não desanimo, sei o valor que meu trabalho tem. 

Loco A Go Go: O que poderia ser feito pra melhorar a penetração do trabalho dos ilustradores em meio aos consumidores e/ou publico em geral?
Gui: As publicações independentes, a arte de rua, adesivos, fliers ... tudo isso ajuda a divulgar a arte. Criar coletivos de intervenções urbanas, fotografar tudo e mandar no instagram .. tudo ajuda. Para divulgar meus desenhos eu criei a Bunda de Macaco Filmes, que são sketches que eu faço, fotografo na hora e divulgo 

Loco A Go Go: Que planos de futuro você tem?
Gui: Minha batalha é viver dos meus trabalhos de freelancer. Fazer mais coisas para bandas e selos independentes. Eu cresci nesse meio, é o que me dá mais prazer profissionalmente. 

Loco A Go Go: Por favor sinta-se a vontade pra deixar um recado, desabafo ou qq outra coisa que queira...
Gui: Valeu Flávio, pela força. Gostaria de colocar meu portifólio para quem quiser conhecer mais do meu trabalho:Site do GUI Abraaaço!

Sentiram a luta do Tesão de Desenhar vs. As Dificuldades Impostas Por Uma Sociedade sem Cultura Pra Absorver Esse Trabalho!!

Deixo um Cheers! particular, para esses herois da tinta e grafite... força amigos, ainda existe uma resistencia a favor de vcs!!

Aguardem os outros posts dessa serie!!!

Flavio Loco Ferraz 


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